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terça-feira, 31 de maio de 2011

Estudo: bullying está associado ao 'desejo de popularidade'



Para muitos adolescentes que navegam pelos desafios sociais da escola, o maior objetivo é fazer parte da turma "popular". Porém, uma nova pesquisa sugere que o caminho para a popularidade na escola pode ser perigoso, e que os alunos perto do topo da hierarquia social são muitas vezes vilões e vítimas de comportamento agressivo envolvendo seus colegas.

As descobertas, que serão publicadas na The American Sociological Review, oferecem uma nova visão sobre a estratificação social dos adolescentes. O estudo, acompanhado de uma pesquisa relacionada da Universidade da Califórna, em Davis, nos Estados Unidos, também desafia os estereótipos do bullying escolar e da vítima.

Casos bastante divulgados envolvendo bullying normalmente significam um assédio crônico de estudantes socialmente isolados, mas os estudos mais recentes sugerem que várias formas de agressão e vitimização ocorrem à medida que os alunos competem para melhorar sua popularidade.

As descobertas contradizem a ideia do agressor como desajustado ou agressivo por natureza. Em vez disso, os autores argumentam que, quando se trata de comportamento malicioso, o papel dos traços individuais é "superestimado", e grande parte dele se deve a preocupações com o status.

"Muitas vítimas são feitas nos degraus intermediários e altos da hierarquia", disse o autor do estudo, Robert Faris, professor assistente de sociologia da UC Davis. "Frequentemente pensamos que isso é parte de como os jovens disputam status. Em vez de perseguir os adolescentes excluídos, eles podem mirar em colegas rivais".

Educadores e pais muitas vezes desconhecem o estresse diário e as agressões com que devem lidar até mesmo estudantes bem-ajustados socialmente. "Pode ser invisível", disse Faris.

"A literatura sobre bullying vem focando nessa única dinâmica de antagonismo crônico repetido de jovens socialmente isolados, ignorando essas outras formas de agressão. É bem possível que um ato, um rumor espalhado na Internet possa ser devastador".

Pesquisa

Numa série de estudos, alguns ainda aguardando publicação, os pesquisadores da UC Davis pediram a 3.722 alunos da oitava à décima série em três condados da Carolina do Norte para indicarem o nome de seus cinco melhores amigos.

Então os pesquisadores perguntaram aos alunos se eles já tinham sido alvo de algum comportamento agressivo por parte de seus colegas - incluindo violência física, abuso verbal e assédio, rumores e fofocas, ou ostracismo - e se eles mesmos já tinham participado desse tipo de comportamento.

Os pesquisadores usaram os dados para construir complexos mapas sociais das escolas, monitorando grupos de amigos e identificando os alunos que constantemente estavam no centro da vida social. "Não é só o número de amigos que o jovem tem, mas quem são esses amigos", disse Faris. "Os jovens de que estamos falando estão bem no meio das coisas".

Usando os mapas, os pesquisadores monitoraram os alunos mais frequentemente acusados de comportamento agressivo. Eles descobriram que subidas no status social estavam associadas a aumentos subsequentes na agressão. Notavelmente, o comportamento agressivo atingiu o auge na 98º posição de popularidade, depois caiu.

"Bem no topo, começamos a ver uma reversão, os jovens nos 2% mais altos têm tendência a serem menos agressivos", disse Faria. "A interpretação que eu tenho é que eles não precisam mais ser agressivos porque estão no topo. Mais agressões podem ser contraproducentes, sinalizando insegurança com sua posição social".

Resultados

No geral, a pesquisa mostra que cerca de um terço dos alunos estão envolvidos em comportamento agressivo. Em outro artigo apresentado no ano passado, Faris relatou que a maioria das agressões de adolescentes é direcionada a rivais sociais. "Talvez um degrau acima ou abaixo de você", como ele colocou, "em vez de um adolescente que está totalmente desprotegido e isolado".

"Não quero dizer que esses jovens não sofrem, porque eles sofrem agressões", disse ele. "Mas o índice geral de agressões parece aumentar à medida que o status sobe. Isso sugere que um aluno acredita ter mais benefício em perseguir alguém que seja seu rival".

Como prevenir o bullying

A pesquisa oferece um mapa para educadores que tentam combater o bullying e a agressão dentro e fora da escola. Uma opção pode ser convocar o apoio dos alunos que não estão envolvidos com bullying - os que estão bem no topo da escada social, e os dois terços dos alunos que não fazem bullying.

Richard Gallagher, diretor do Instituo de Paternidade e Maternidade do Centro de Estudos Infantis da Universidade de Nova York, disse que a pesquisa acrescenta a um corpo crescente de literatura científica documentando o papel que a popularidade exerce no assédio agressivo e no comportamento de bullying.

"Ele salienta que é um comportamento típico usado para estabelecer redes e status sociais", disse Gallagher, professor de psiquiatria infantil e de adolescentes. "As escolas e os pais precisam estar atentos porque é um comportamento que ocorre o tempo todo. Isso significa que os distritos escolares precisam ter políticas que lidem com o problema. Acho que devemos recorrer aos próprios adolescentes para criar algumas soluções".

Gallagher afirmou que, embora os resultados tenham sido confusos, algumas pesquisas mostraram que as escolas podem combater o bullying e a agressão ao convocar a ajuda dos alunos, assim como dos administradores. "Não é provável que se elimine totalmente esse comportamento, mas é provável que sua ocorrência se reduza", disse.

Segundo ele, os programas que obtiveram sucesso são os que não colocam os jovens na posição de meros espectadores. "As iniciativas fizeram com que os jovens populares demonstrassem que o bullying não é legal".

Faris afirmou planejar conduzir novas pesquisas para casar os mapas sociais com anuários das escolas, a fim de melhor documentar uma hierarquia social. Um estudo relacionado também sugere que não é apenas a popularidade que influencia um comportamento agressivo, mas a importância que o aluno dá a ser popular.

"Historicamente, toda a atenção tem se focado nas deficiências mentais dos que fazem a agressão", disse Faris. "Precisamos direcionar mais atenção à forma como a agressão está entrelaçada no tecido social dessas escolas"

(The New York Times)

Amigos da Escola promove debate sobre Bullying e Cyberbullying

 

Serginho Groisman mediou o debate transmitido ao vivo pela internet




O Projeto Amigos da Escola realizou nesta sexta-feira, dia 27 de maio,  o debate “Bullying e Cyberbullying: como Combater e Prevenir?”, com mediação do apresentador Serginho Groisman.
O evento contou com a presença de 264 professores, alunos e diretores de escolas, além da psicóloga Ana Beatriz Barbosa e da especialista em educação Andrea Ramal. O aluno Felipe, que iniciou, no programa, a campanha Altas Horas contra o Bullying também esteve no estúdio.
O objetivo do debate era promover uma reflexão sobre o assunto e informar as vítimas sobre como lidar e prevenir esses tipos de agressões. O evento foi transmitido ao vivo pelo site do Projeto Amigos da Escola.

               



                                  Ana  Beatriz Barbosa, Serginho Groisman e Andréa Ramal (Foto: Zé Paulo Cardeal) 
 Ana Beatriz Barbosa, Serginho Groisman e Andréa Ramal (Foto: Zé Paulo Cardeal)

O debate teve a participação de duas especialistas – a psicóloga Ana Beatriz Barbosa e a especialista em educação Andrea Ramal –, e foi mediado pelo apresentador Serginho Groisman. Felipe, aluno que iniciou a campanha antibullying no programa Altas Horas, também fez participação especial.
  
 ^^ Não consegui encontrar o vídeo desse debate para postar aqui =(((((


 >> Alguns vídeos relacionados ao Bullying & Serginho Groisman









segunda-feira, 30 de maio de 2011

O bullying: família x escola

O bullying que só recentemente vem sendo estudado no Brasil é um problema mundial que vem sido largamente estudado há vários anos. Definido como um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, por ocorrem sem um motivo evidente e adotado por um ou mais alunos contra outros, causando dessa forma sentimentos negativos como raiva, angustia, sofrimento e em alguns casos queda do rendimento escolar (FANTE,2005).
Segundo Fante (2005) o bullying escolar se resume em insultos, intimidações, apelidos constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuações em grupo que hostilizam e ridicularizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de danos físicos, psíquicos, danos na aprendizagem.
Decerto muitos psicólogos chamam o bullying de violência moral por permitir  diferenciá-lo de brincadeiras entre iguais, propício do desenvolvimento de cada um. Com isso fica evidente que aqueles que possuem alguma diferença em relação ao grupo, como obesidade, deficiência física, inteligência acima da media ou dificuldades de aprendizagem, são alvos essenciais para as agressões.
Fazendo uma análise do ambiente escolar, percebe-se sua importância para as crianças e as que não gostam da escola tem a maior probabilidade de apresentar desempenho insatisfatório, por estes motivos é que a aceitação por parte dos colegas na escola é fundamental para um bom desempenho escolar.
Outro fato bastante importante é observar aqueles alunos denominados testemunhas. São aqueles que não estão envolvidos diretamente nas agressões do bullying, mas que presenciam os acontecimentos dentro ou fora da sala de aula e normalmente tendem a ficar calados por medo de serem as próximas vítimas.
De acordo com Fante (2005), grande parte das testemunhas sente simpatia pelos alunos alvos do bullying e condena o comportamento dos alunos autores, mas o medo exerce tanta força sobre os mesmos que não adianta tentar forçar uma confissão.
De certa forma, quando alguém estiver interessado em descobrir algum caso de agressão na escola, deve- se observar os grupos de alunos na hora do intervalo. Embora casos de meninas como autores de bullying sejam raros,ou seja, há um predomínio do sexo masculino, já como vítimas não há essa diferença, pois tanto os meninos quanto as meninas servem de vítimas para os autores.
O professor, assim como os pais, devem sempre demonstrar a importância do respeito mutuo, do diálogo, da justiça, da solidariedade, assim como trabalhar as diferenças e os direitos das crianças em sua sala de aula. Um ambiente escolar favorável a todos certamente implicará em um bom desempenho escolar para todos os alunos, pois quando não há intervenções eficazes contra o BULLYING, o espaço escolar torna-se totalmente corrompido.
Ao contrário do que muitos pensam, não é somente as vítimas do bullying que sofrem as conseqüências. Os agressores e as testemunhas também podem sofrer as conseqüências tanto no âmbito emocional quanto na aprendizagem.
Trata-se, portanto, de um fenômeno comportamental que atinge o ego de todos, pois envolvem suas vítimas de tal forma que as tornam reféns da ansiedade e insegurança.
Acredito que para se combater ou prevenir o bullying na sala de aula ou em qualquer lugar é necessário que a família exerça o seu papel de educador, difundindo o que é moral, respeito ao próximo, sobre a aceitação das diferenças e cabe a família trabalhar esses conceitos com seus filhos.
A escola atualmente está fazendo o papel que por obrigação é da família e dessa forma não consegue exercer direito nem o papel dela, o de mediador de conhecimentos afins para o mercado de trabalho, a vida social.
Com isso, os pais devem se conscientizar de suas obrigações também para auxiliar no combate ao Bullying ao invés de apenas se sentirem vítimas, esquecendo que a negligência também é co-autora na prática do bullying.
Então  os pais devem incentivar o filho a falar, ir à escola e buscar uma solução que envolva toda a comunidade escolar. É lógico que isso só será possível se a escola tiver como lema a não aceitação do bullying, mas é bom lembrar que o bullying ocorre em todas as escolas.
Muitas vezes o que acontece na rua ou escola é um reflexo do que a criança convive em casa.  Se a criança é tratada com gritos, tapas ou presencia cenas de violência em casa, ela acredita que esse tipo de comportamento funciona e muito comum, portanto ela acredita que repetir tal comportamento na escola não é nada demais.
Um erro comum a muitos pais é acreditar as crianças dos outros sempre serão os errados e seu filho jamais agiu de forma errada, e se por ventura fez algo do tipo, "foram os colegas que procuraram". Enfim, alguns não sabem os que filhos são realmente ou fingem não saber.
O bullying praticado por crianças, não é menos impactante e outra inverdade é que acreditar a pessoa que pratica bullying, o faz por sentir-se infeliz consigo mesma. Em todos esses anos de pesquisas, foi concluído que os praticantes têm uma auto-estima muito elevada. O que eles desejam é projetar seu poder sobre alguém que, por alguma razão, não dispõe de meios para se defender. Não adianta tentar achar o culpado e sim acabar com a prática.

Referência Bibliográfica
NETO, A.L. Diga não ao bullying. 5 ed. Rio de Janeiro, ABRAPIA, 2004.

Fonte: 
http://www.artigonal.com/educacao-infantil-artigos/o-bullying-familia-x-escola-4832134.html

Justiça é quem decide quem paga pelo bullying



Bullying: Palavra inglesa que significa usar o poder ou força para intimidar, excluir, implicar e humilhar. Utilizada para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos. O verbo poderia ser traduzido simplesmente como bulir, que o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define como fazer caçoada, brincar, zombar.

O termo, até pouco tempo desconhecido foi motivo de clamor popular quando se soube que Wellington de Oliveira, o autor da chacina de 12 crianças numa escola de Realengo, no Rio de Janeiro, era uma suposta vítima de bullying. Depois disso, virou moda, ganhou destaque na mídia, e entrou na pauta da política e da justiça. Como os culpados de bullying são, via de regra, menores de idade, quem afinal deve ser punido nesses casos? As escolas? Os pais dos agressores? Os próprios agressores? O assunto deve ser levado à Justiça ou há outros meios para solucioná-lo? A reportagem tentará trazer à luz alguns aspectos desse tema.

Para começar é bom saber que no Rio Grande do Sul, em alguns municípios paulistas, como Ribeirão Preto, e em Belo Horizonte já estão em vigor leis anti-bullying. Vale destacar que nenhuma dessas leis considera a prática um crime. É justamente o que pretende fazer o Ministério Público de São Paulo que patrocina um anteprojeto de lei para regulamentar e que prevê a criminalização do bullying.

Justiça decide

Na falta de leis mais abrangentes, a Justiça começa a construir seu caminho jurisprudencial. Em fevereiro deste ano a 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou, por unanimidade, que uma escola pagasse indenização a uma garota vítima de bullying. Os autores da ação alegam que a partir do início de março de 2003, a menina, com 7 anos na época, foi vítima de sucessivas agressões físicas e verbais de outros colegas de classe, na escola em que estudava.

Consta dos autos que a menina foi espetada com um lápis na cabeça e arrastada, era xingada, levava socos, chutes e gritos no ouvido. Como conseqüência dos maus tratos dos colegas precisou de ajuda médica. O diagnóstico apontou manifestação de fobias; dificuldade para ir à escola; insônia; terror noturno; e sintomas psicossomáticos, como enxaqueca e dores abdominais. Passou a ser tratada com antidepressivos e no fim do ano letivo, mudou de colégio.

Para o relator do recurso no T-RJ, desembargador Ademir Paulo pimentel, a escola onde a menina estudava tinha culpa nos fatos: “Com efeito, o colégio réu tomou algumas medidas na tentativa de contornar a situação, contudo, tais providências foram inócuas para solucionar o problema, tendo em vista que as agressões se perpetuaram pelo ano letivo. Talvez porque o estabelecimento de ensino apelado não atentou para o papel da escola como instrumento de inclusão social, sobretudo no caso de crianças tidas como diferentes”, sustentou em seu voto.

Em Campo Grande, um estudante do 8º ano do ensino fundamental de uma escola pública foi forçado a entregar ao menos R$ 1 mil a um ex-colega de sala da mesma idade por conta de seguidas ameaças de espancamento e até de morte. As ameaças já duravam um ano, até que um policial apreendeu o adolescente pegando R$ 50,00 da vítima num terminal de ônibus da cidade.

A delegada Aline Finnott Lopes, chefe da Delegacia de Atendimento a Infância e Juventude concluiu o inquérito e mandou para Ministério Público Estadual. Lá, o promotor Sérgio Harfouche, da 27ª Vara da Infância e da Adolescência firmou Termo de Ajuste de Conduta pelo qual o adolescente terá de cumprir tarefas na escola, como limpar pátio e lavar louça da merenda escolar, além de participar de curso de orientação contra bullying.

Houve também um caso de cyberbullying. Um adolescente entrou com ação de indenização na Comarca de Carazinho alegando que fotos suas foram copiadas e alteradas, dando origem a um fotolog criado em seu nome e hospedado na página do provedor Terra Networks Brasil S.A.

No endereço foram postadas mensagens levianas e ofensivas. Além disso, foram feitas montagens fotográficas nas quais o autor aparece ora com chifres, ora com o rosto ligado a um corpo de mulher.

Segundo ele, após insistência e denúncias por mais de um mês, o provedor cancelou o fotolog. Na sequência, o autor começou a receber e-mails com conteúdo ofensivo, razão pela qual providenciou registro de ocorrência policial e ingressou com Ação Cautelar para que o provedor fornecesse dados sobre a identidade do proprietário do computador de onde as mensagens foram postadas, chegando ao nome da mãe de um colega de classe.

Os fatos ocorreram enquanto o autor ainda era adolescente e, segundo ele, foram muito prejudiciais, a ponde dele procurar ajuda psicológica para se reerguer. Por essas razões, sustentou que a mãe do criador da página deveria ser responsabilizada, já que as mensagens partiram de seu computador, bem como o provedor, por permitir a divulgação do fotolog. A justiça entendeu e proferiu em sentença que mãe deveria de pagar indenização de R$ 5 mil pelos danos causados ao colega de classe de seu filho.

A defensora pública Tânia Regina de Matos, de Campo Grande (MS), que faz parte do projeto “Defensoria vai à Escola”, afirma: “É importante haver proporcionalidade, ou seja, a punição aplicada tem de ser proporcional ao bullying praticado”. Essa é uma questão delicada, pois gozações e chacotas sempre fizeram parte do universo das escolas e até da natureza humana.

Tânia Regina explica que há todo um trâmite antes que a Defensoria entre com ação contra a escola por danos morais. Primeiro, é recomendado ao aluno vítima de bullying travar diálogo com o agressor. Se não apresentar resultado, a vítima deve procurar a coordenadora e por fim, a diretora da escola. Se todas as instâncias não resolverem, é a vez de a Defensoria, que tentará intimar o autor das agressões. Se ainda assim não resolver, o órgão entrará com ação contra a escola. Para Tânia, seria interessante uma lei tipificando o que é bullying e o que não é.

A tipificação é um dos diferenciais do anteprojeto de lei proposto pelo MP de São Paulo. Segundo Mario Augusto Bruno Neto, promotor de Justiça da Infância e Juventude da Capital, não existem projetos com esse enfoque. O MP quer que o bullying sejam considerado crime, com pena de um a quatro anos de reclusão, além de multa.

Prevê ainda que caso o bullying seja cometido por mais de uma pessoa, por meio eletrônico ou outro tipo de mídia (caso do cyberbullying), a pena será aumentada de um terço até a metade. Para uma lesão grave, é previsto reclusão de cindo a dez anos. Em caso de morte, reclusão de 12 a 30 anos, além de multa prevista para homicídios.
 

Como o bullying e o cyberbullying são praticados na imensa maioria dos casos por crianças e adolescentes, os promotores vão precisar adaptar a tipificação penal dessas práticas ao que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O anteprojeto será submetido, no dia 3 de junho a aprovação na promotoria e depois, encaminhado ao procurador-geral do MP-SP, Fernando Grella, que deverá enviar o texto a um deputado para que o documento seja encaminhado ao Congresso.

Atualmente, a justiça enquadra casos desse tipo como crime de injúria ou lesão corporal. Entende-se como sendo injúria ofensa verbal, ou escrita, agravada por atos de violência ou utilização de elementos que denotem preconceito de cor, raça, etnia e religião. A pena varia de seis meses a três anos ou multa. Já lesão corporal consiste em ofender a integridade corporal ou a saúde. Pena de detenção de três meses a um ano. Se for grave, reclusão, de um a cinco anos.

Para o advogado Mauro César Arjona, professor de Direito Penal e Prática Penal e Processual Penal na PUC-SP, o anteprojeto do MP é ilógico e desnecessário. Diz também que a iniciativa nasceu no clamor da chacina de Realengo. “Não precisamos de lei para isso, a Constituição já possui as ferramentas necessárias para punir esses casos”, argumenta Arjona. O advogado acredita que o assunto deve ser tratado por pedagogos e psicólogos.

Ele concorda que a escola deve ser responsável civilmente e em circunstâncias específicas, talvez o pai, caso demonstrado que ele incita esse tipo de comportamento, já que em 90% dos casos quem pratica bullying é inimputável.

Conjur

Fonte:

sábado, 28 de maio de 2011

As marcas indeléveis do bullying

Jacir J. Venturi

A vítima do bullying sofre pela rejeição, pelo não pertencimento ao grupo. É um sentimento que dói intensamente, mais do que se infere das palavras do filósofo norte-americano William James : “O princípio mais profundamente enraizado na natureza humana é a ânsia de ser apreciado.”
Onde mais se pratica o bullying é na escola e esta é um laboratório para a vida adulta. Evidentemente o mundo do trabalho é competitivo e em determinados momentos a tolerância às hostilidades é necessária. Esse aprendizado deve ser gradual – não pontualmente intenso, uma característica do bullying – para que a consciência e a razão introjetem os ensinamentos de que o caminho a ser percorrido na vida não é plano, florido e pavimentado. Quem não foi alvo de apelidos, gozações, ofensas em sua trajetória escolar? Em boa medida, a escola deve punir. No entanto, a palavra bullying está sendo empregada indiscriminadamente. O ambiente escolar é um cadinho dos humanos e é ilusão aspirar a que estudantes se comportem como noviças numa clausura.
Num crescendo, o educando vai assimilando as oportunas lições das alegrias e agruras na convivência com outras crianças e adolescentes e destarte torna-se mais robusto para o enfrentamento dos desafios e frustrações. As raízes de um carvalho só se fortalecem pela ação das inclementes rajadas de vento. E cada vitória tem o sabor de uma perdoável vingança, como as palavras de Kate Winslet – vítima de bullying por ser uma adolescente rechonchudinha – ao receber o Oscar de melhor atriz, por sua atuação em Titanic: “Lá do palco, quando olhei a plateia, não vi nenhum dos meus agressores.”
Neste espectro, há um outro extremo, fruto de bullies (agressores) sistemáticos e que agem sadicamente sobre vítimas portadoras de desequilíbrios ou com elevada sensibilidade. É um solo minado, com consequências nefastas, como a tragédia numa escola de Realengo (RJ). Wellington de Oliveira, franzino e introspectivo, foi alvo constante na escola de seus colegas algozes. Um legado trágico sucede suas palavras escritas na véspera: “Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com os meus sentimentos.
Essa violência repetida e praticada entre iguais deixaram marcas leves em Kate e profundas em Wellington. São marcas que geraram sofrimento, provocadas pela insensibilidade moral do bully (agressor). Nós, educadores, devemos atacar as causas para que a consciência não nos acuse quando vierem as consequências. A intensidade do bullying indica o quanto moralmente a escola está comprometida. É responsabilidade dos gestores e professores duas frentes de combate: prevenção e ação. É preventiva a implementação de uma cultura de respeito, tolerância e aceitação de que somos diversos, mas não adversos. Ação vigilante, pro-ativa e punitiva sobre os agressores. Em resumo: ação como remédio e prevenção pelo comportamento ético.

*Jacir J. Venturi é diretor de escola, professor e autor de livros.

Fonte: http://bit.ly/iXv5JT 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

CARTILHA SOBRE BULLYING JÁ PODE SER SOLICITADA À FMU


Instituição disponibiliza exemplares da cartilha para pais, professores e demais interessados na prevenção e erradicação da prática agressiva entre jovens


Lançada na última segunda-feira, 23/5, a Cartilha Bullying – Justiça nas Escolas, da professora Ana Beatriz Barbosa Silva, em edição conjunta do Complexo Educacional FMU e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), já encontra-se disponível na Instituição.

A publicação tem como objetivo auxiliar familiares e educadores a identificar possíveis casos de bullying no ambiente escolar e impedir ou minimizar os efeitos dessa prática. Para adquirir um exemplar, o interessado deve encaminhar um e-mail para cartilha@fmu.br informando nome, endereço completo e telefone.

O idealizador do Projeto, professor Edevaldo Alves da Silva, presidente do Complexo Educacional FMU, afirma que o papel do ensino superior vai além das salas de aula e, por conta disso, a Instituição decidiu abraçar essa causa com ações de combate ao problema e a participação de especialistas e doutores nas áreas envolvidas.

O Complexo Educacional FMU, que reúne as Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Faculdades Integradas de São Paulo (FISP) e Faculdades Integradas Alcântara Machado e Faculdade de Artes Alcântara Machado (FIAM FAAM), é referência na qualidade de ensino e empregabilidade de seus alunos há mais de 40 anos. Atualmente, a instituição oferece mais de 80 cursos de Graduação, 50 opções de Pós-graduação (Especialização e MBA), 40 cursos de Extensão e Mestrado em Direito. Possui estrutura moderna, campi de fácil acesso e professores mestres e doutores, que oferecem aos estudantes um ensino diferenciado e inovador.

Informações para a imprensa:
Casa da Notícia Comunicação / Complexo Educacional FMU
Joice Guimarães / Ana Carolina Ferreira / Denise Corrêa
Tels: (11) 3346-6210 / 3346-6253 / 2503-7611
E-mail: imprensa@fmu.br



Fonte: http://bit.ly/kT4cfE

Agressões físicas e psicológicas caracterizam bullying no relacionamento

 

Vítimas costumam se sentir inferiores ao agressor e precisam de tratamento 


Por Especialistas

Muito se tem discutido sobre como a prática do bullying está afetando a sociedade de modo geral. Geralmente, associamos a prática a situações escolares e a grupos de jovens, mas, ao analisar o significado da palavra, podemos compreender como a prática pode ser mais abrangente e afetar outros grupos de pessoas.

A palavra bullying deriva do inglês "bully", que significa ameaçar, maltratar, oprimir e assustar. O termo tem sido utilizado em diversos países para classificar atitudes e comportamentos agressivos, ameaçadores, amedrontadores e cruéis em todos os tipos de relações interpessoais.

Portanto, como a própria definição da palavra esclarece, o bullying é algo que pode estar presente e afetar de forma negativa qualquer tipo de relação, inclusive o relacionamento do casal.  
O bullying é algo que pode estar presente e afetar de forma negativa qualquer tipo de relação, inclusive o relacionamento do casal.
Muitas relações são marcadas por violência física e psicológica. O bullying tende a agredir principalmente o aspecto psicológico da pessoa, através de ameaças constantes, comentários excessivamente negativos, atitudes de rebaixamento e humilhação.

As vitimas de bullying no relacionamento, assim como as crianças e jovens vitimas de bullying na escola, apresentam sinais de timidez, baixa autoestima, sensação de incapacidade e impotência, fobia social, dificuldade de relacionamento interpessoal, insegurança e até pensamentos suicidas.

Para muitas pessoas, a violência psicológica pode causar mais danos e deixar mais sequelas que a violência física, pois, infelizmente, é mais difícil de ser comprovada, denunciada, punida e superada.

As vítimas têm dificuldades para se defender e colocar um fim às ameaças porque, geralmente, são pessoas estruturalmente mais delicadas, que ficam ainda mais fragilizadas diante das ameaças e que se sentem pequenas, inferiores e incapazes diante do agressor, que costuma se mostrar forte, inabalável e indestrutível.

Outros fatores que dificultam a procura de ajuda pela vítima são:

- Sensação de merecimento: A pessoa acredita que as suas atitudes são erradas e inadequadas e por isso ela merece ser punida e castigada. Nesse caso a pessoa não procura ajuda porque acredita que as reações negativas são naturais diante de seus constantes erros. No geral, a pessoa tem a sensação de fracasso e inadequação social.

- Sensação de pouca importância: Nesse caso, a autoestima da pessoa é baixa a ponto dela acreditar que, ao buscar ajuda, fará com que as pessoas procuradas percam tempo com algo sem importância. É a sensação de que as pessoas têm coisas mais importantes com que se preocupar e ocupar, uma vez que ela não é importante para ninguém.

- Desconfiança: O excesso de ameaça faz com que a vitima passe a ver todos a sua volta como ameaça e não procura ajudar por não acreditar que existam pessoas que irão se preocupar com ela, não irão feri-la de nenhuma forma e, principalmente, que não utilizarão suas palavras e sentimentos contra ela mesma.

- Sentimento de impotência: A pessoa se sente sem forças para tomar alguma medida capaz de acabar com a situação. O sentimento de impotência e desvalorização geralmente está acompanhando da supervalorização do agressor.

- Negação: Essa atitude age como um forte e importante mecanismo de defesa para que a pessoa não entre em contato com o seu sofrimento já que, através da negação, os aspectos negativos do parceiro são ignorados e as qualidades são exaltadas. Ex.: Quando a mulher sofre algum tipo de violência em casa, ela define e vê a figura do marido como "um homem exemplar, porque é trabalhador, honesto e não bebe."

- Sensação de Ridicularização: Acomete as pessoas que têm todas as suas atitudes ridicularizadas e são alvo constante de piada e deboche por parte do parceiro. Como essas pessoas passam a acreditar que não são dignas de serem levadas a sério, não procuram ajuda por achar que, ao contar as suas aflições e medos, serão alvo de piada.

- Vergonha de seus sentimentos: Quando a pessoa está muito fragilizada tende a sentir vergonha de seus sentimentos e, por isso, sente dificuldade para compartilhar com outras pessoas suas angustias.

- Associação de violência e afeto: Um fator importante que dificulta a constatação da violência psicológica é o fato da vitima ter crescido em um ambiente familiar agressivo, ter se casado com uma pessoa também agressiva e associar ameaça e violência a afeto, não percebendo que está sendo vítima de atitudes violentas.

Nesse caso, a pessoa percebe como algo positivo as ações do companheiro (ou companheira) porque as associa a provas de amor. Tomo como exemplo as mulheres que permitem que o marido ciumento a acompanhe a todos os lugares e as impeça de ter contato com outras pessoas além dele, por interpretarem que essas atitudes são uma forma de proteção e afeto.

Para auxiliar as pessoas que são vitimas de bullying no relacionamento é preciso trabalhar a dissociação de atitudes negativas e destrutivas de afeto, resgate da autoestima, devolver o sentimento de autonomia sobre a própria vida e fortalecimento da personalidade entre outros aspectos, para que a pessoa sinta segurança e confiança em si própria e tenha condições de dar fim às agressões.

Um trabalho com o agressor também é importante para que ele perceba os motivos que o levam a se relacionar e agir dessa forma e desenvolva diferentes formas de lidar com as pessoas a sua volta, colocar a sua opinião e ser respeitado.

É importante esclarecer que tanto mulheres quanto homens podem ser vítimas de bullying no relacionamento e que ambos precisam ser auxiliados e acolhidos da mesma forma. 

Fonte:

 

quinta-feira, 26 de maio de 2011

E quando é a professora que comete bullying?






Então hoje, na hora do almoço:
- E o fulaninho da minha classe que virou menina? – disse o Lucas, cuspindo a comida de tanto rir.
Eu já ia levando o garfo à boca e parei por dois segundos para pensar no que dizer. Pensei que o molequinho tivesse dado uma desmunhecadinha e, pronto!, foi o motivo para a sala zoar o pobre o dia todo. Já tinha preparado a bronca:
- Por que, Lucas? Ele trocou o pênis por uma vagina?
Aí ele se babou todo de tanto gargalhar.
- Não, mãe. Ele escreveu aquelas coisas que só as meninas escrevem…
- E o que é que uma menina escreve e que menino não pode escrever?
- Ah, cartinhas de amor. Isso é coisa de menina. A professora que disse isso quando ela achou a carta (e aí Luquinhas afinou a voz e imitou a vaca): “Ih, fulano! Tá escrevendo essas coisinhas é? Tá virando menininha?”
Minha feição mudou de tal forma que o Lucas parou de rir imediatamente.
Contei para ele que as grandes cartas de amor da humanidade, as maiores, foram escritas por homens. Falei de Vinicius, Neruda, Pessoa, Chico, Aldir. Perguntei se, ao namorar de verdade com uma garota, ele vai lhe dar um tapa na cabeça ou uma carta de amor.
- Uma carta de amor, lógico.
Ufa. Um idiota a menos no mundo.
**
Hoje à noite vou mostrar-lhe todas as cartas de amor que já recebi. Dezenas delas. Das mais simples às mais rebuscadas. Dos bilhetes curtos às mais prolixas. Das escritas no começo de tudo às mais doloridas. Das mais antigas, amareladas, às últimas. Guardo todas.
E estou pensando em contactar o marido dessa professora. Porque já passou da hora da dita cuja mal amada receber uma carta de amor escrita por um homem de verdade.

Bullying: problema da escola ou dos pais?


1o Simpósio Brasileiro Sobre Bullying reforça como o ambiente escolar é onde o problema se manifesta com mais clareza, a importância de medidas de prevenção nas instituições e o papel dos pais. Saiba também o que fazer se o seu filho é o agressor ou o espectador



A psicanalista Sônia Makaron, uma das palestrantes, frisou sobre o papel fundamental dos pais no comportamento da criança, apontando caminhos certos e errados (afinal, ter um filho do tipo valentão não é uma vantagem, como se pode pensar), mas como a partir dos 7 anos o olhar da escola para o convívio entre os alunos deve ser prioritário. Segundo os especialistas que participaram do Simpósio, apesar de, aos poucos, as escolas brasileiras se conscientizarem de que o problema também é delas e pararem de achar que bullying é “coisa de criança e passa com o tempo”, muito ainda precisa ser feito. E não há uma receita: cada espaço precisa encontrar a sua maneira de lidar com a situação. 


Abaixo, confira a entrevista da CRESCER com a psicanalista Sonia Makaron 

CRESCER: O bullying tem idade para começar? 

Sônia Makaron:
 O bullying tem vários graus, e o mais incipientes podem aparecer já na primeira infância. Porém, é importante os adultos não confundirem uma ação que pode ser feita por curiosidade (a menina de 4 anos que levanta a saia da coleguinha da mesma idade talvez só queira verificar o sexo alheio), com pequenas crueldades repetitivas, que geram sofrimento no outro, característica do bullying. Nessa fase, os pais têm que explicar, dizer que está errado, mas sem punir. Se o fenômeno persistir, indico castigos leves, como ficar sem algo de que gosta. Esse é o momento do problema em que os pais mais têm que agir, pois as crianças ainda estão muito ligadas a eles. A partir dos 7 anos, a idade da razão, o bullying toma a forma mais característica e discutida hoje, com apelidos maldosos e agressões, por exemplo. A partir desse momento, o papel da escola passa a ser prioritário. 

C.: Então é na escola que o bullying tem de ser combatido? 

S.:
 Mais do que isso, é no espaço escolar que o bullying precisa ser prevenido. Afinal, é lá que as coisas acontecem. É obrigação da escola adotar políticas antibullying, conscientizar professores e alertar pais e alunos. Se a escola não contar, os pais, muitas vezes, ficam sem saber, principalmente no caso de crianças que são agressoras e espectadoras. 

C.: O que os pais devem fazer quando o seu filho é o agressor? 

S.:
 Primeiro, eles precisam controlar o sentimento de autoproteção que leva a pensamentos do tipo “o meu filho não tem problemas”. Ser o valentão não é uma qualidade nesse caso. Tampouco orgulhar-se da suposta liderança do filho, que não se sustenta em coisas realmente importantes, como maior conhecimento, ajuda a resolver a questão. Então, é essencial ouvir o que a escola tem a dizer, pois agressores normalmente não contam aos pais o que fazem, e conversar muito com a criança. Outro ponto fundamental é que muitas crianças tornam-se agressivas porque vêm de um ambiente familiar desarmônico. É importante cuidar das relações caseiras também, mostrar que uma forma de socialização pacífica, solidária, que respeite o outro, é possível. Há, ainda, a possibilidade de procurar ajuda de especialistas quando ou o caso é mais grave ou os pais não sabem direito como lidar com a situação. 

C.: E se a criança for espectadora? 

S.:
 Esse, talvez, seja o mais difícil de os pais perceberem. Afinal, a escola dificilmente vai procurar os adultos responsáveis pelas crianças que não estão envolvidas diretamente no conflito, apesar de ser o indicado. Acho importante os pais, sempre que possível, levantarem questões, perguntar o que os filhos acham das situações de bullying, e, a partir daí, propor reflexões. Perguntas como “o que você faria se um colega estivesse sendo humilhando?” já indicam o posicionamento da criança. E ressaltar, sempre, que o correto, caso ele presencie cenas de constrangimento, é procurar a direção da escola. Ele não será um dedo duro, mas sim alguém que agiu com solidariedade. 

C.: Depois da tragédia de Realengo, o que muda em relação ao bullying? 

S.:
 O massacre serviu para assustar, mas não necessariamente gerar uma reflexão, pois cada pessoa lida de uma maneira diferente com o sofrimento. Além do que, já é sabido, o atirador tinha problemas psiquícos, e o bullying foi apenas um ingrediente, e não toda a motivação do crime.



 Além das respostas jurídicas dadas ao Colégio Nossa Senhora da Piedade por conta do processo que movemos contra ele a respeito do #bullying sofrido pela minha filha, na época com 7 anos, nas suas dependências, este artigo contesta bem a visão da escola com relação ao Bullying, a alegação deles que o problema existia pq EU era a única mãe que reclamava por ser super protetora e mãe de filha única e, ainda, a maneira como o problema era tratado por eles =(((((  Muito esclarecedora a entrevista!!!

O fenômeno bullying


Certa vez, o professor Júlio César presenciou uma reação entre dois alunos que o abalou. Viu Alex ofendendo intensamente Fernando. Fernando vivia viajando nos seus pensamentos, era distraído, não se concentrava, sofria por antecipação, preocupava-se muito com as coisas que não aconteciam. A ansiedade dele era bem intensa. Além disso, tinha dificuldade de aprendizado. Não conseguia acompanhar a classe.
         O jovem era tão disperso que frequentemente fazia perguntas sobre um assunto que o professor havia acabado de explicar. Outras vezes, fazia comentários que nada tinham a ver com o assunto tratado. Muitos dos seus colegas zombavam dele pelas costas.
         Os alunos não sabiam o valor da inclusão, a importância de conviver com pessoas diferentes. Não compreendiam que os maiores erros cometidos pela humanidade ocorreram por não aceitar e respeitar pessoas diferentes, seja no campo intelectual, social, racial, cultural ou religioso.
         Júlio César era paciente com Fernando e admirava sua participação. Como Romanov, pensava que jovens calados são bons para formar um exército, mas não um time de pensadores. Não queria uma platéia de robôs.
Após Fernando fazer mais uma pergunta sem relação aparente com o assunto ensinado, Alex não se aguentou e gritou do fundo da classe:
         --- Burro! Mongolóide! Acorda!
         A turma caiu em gargalhadas. Alex era considerado o líder da turma e Fernando era considerado o patinho feio da classe. Humilhado, lacrimejou os olhos, sentiu um nó na garganta. Logo depois, levantou-se e ameaçou sair do ambiente.
         Júlio César imediatamente fez uma intervenção:
         --- Por favor, Fernando, não saia. ? E olhando para toda a classe e depois para o agressor, comentou:
         --- Você acabou de cometer um grave erro contra seu colega. Zombou de sua capacidade intelectual. Fez dele um palhaço e objeto de deboche diante de toda a turma. Sabia que muitos pensadores tinham o perfil psicológico de Fernando? Eles brilharam porque não tiveram medo de perguntar, de se expressar.
         Alex tentou disfarçar escondendo seu rosto. Mas o professor fez uma célebre defesa da inclusão social. Disse que quem não é capaz de aceitar pessoas diferentes comete atrocidades nas relações sociais. Comentou sobre a escravidão dos negros, a morte de seis milhões de judeus na Segunda Grande Guerra, conflitos entre cristãos e muçulmanos na história, a turbulência na região da Caxemira na Índia e em muitos outros lugares.
Comentou ainda que a nossa espécie está doente, doente pela discriminação, pela falta de respeito, solidariedade, pela dificuldade de inclusão social. E acrescentou:
         --- Os fracos julgam e excluem, mas os fortes incluem e compreendem. ? Em seguida, ainda não satisfeito, perguntou para Alex: ? Sabe como se chama esse tipo de agressividade entre os colegas?
         Alex não soube responder. Em seguida, o professor fez a mesma pergunta para a classe. Mas ninguém sabia a resposta.
         --- Fenômeno bullying ? respondeu com segurança.
         --- Que fenômeno é esse? - perguntou Joana, curiosa.
         --- Bully quer dizer valente, agressor. Toda vez que os colegas agridem, diminuem, discriminam ou rotulam outros colegas, eles cometem o fenômeno bullying, se tornam agressores, controladores e até carrascos emocionais deles. Entre as crianças e adolescentes existem muitas brincadeiras. Algumas são saudáveis, estimulam a criatividade e o prazer. Entretanto, outras machucam profundamente a emoção e geram traumas na personalidade.
         Alex engoliu saliva e calou-se. Júlio César também havia sido vítima do fenômeno bullying na adolescência. O assunto tocava-lhe fundo, por isso resolveu falar sobre alguns segredos da mente humana para compreenderem melhor como esse fenômeno pode prejudicar drasticamente a formação da personalidade.
         Não é possível deletar a memória
         --- O registro na memória é involuntário. Todas as idéias, pensamentos, imagens mentais, emoções, sejam tolas ou inteligentes, lúcidas ou perturbadoras, são registradas automaticamente.
         --- Professor, mas nos computadores eu registro o que eu quero! ? afirmou Márcia.
         --- Sim, mas, na memória humana, você não tem essa opção. O fenômeno RAM (Registro Automático da Memória) arquiva tudo automaticamente. Isso é fácil de perceber pela nossa experiência. Porém devemos também compreender que todas as experiências que têm mais emoção, sejam prazeres ou sofrimentos, tranquilidade ou medo, são registradas de maneira privilegiada. Por isso, recordamos com facilidade principalmente os momentos mais marcantes de nossas vidas. ? Após dizer tais palavras, o professor perguntou: ?       Podemos apagar ou deletar o que está arquivado?
         Luís se adiantou e respondeu:
         --- Creio que sim, pois nos computadores a coisa mais fácil é apagar os arquivos.
         --- Você já tentou apagar da sua memória um problema que atravessou?
         Luís há dois dias tinha perdido duzentos reais. Tentava apagar da sua mente essa perda, mas, quanto mais tentava, mais pensava no assunto.
         --- Não! ? disse Luís sem delongas.
         Em seguida, Júlio César perguntou a Alex com delicadeza:
         --- Você tentou deletar da sua memória quem você ofendeu ou decepcionou?
         O aluno ficou vermelho, percebeu onde seu professor quis chegar, Alex havia levado um fora da sua namorada há um mês. Por querer controlá-la e ao mesmo tempo achar que podia ficar com uma garota por semana, ela rompeu a relação e nem telefonema dele atende mais. Ele tentava esquecê-la, mas pensava dia e noite nela.
         --- Queria deletar alguns arquivos ruins daminha memória, mas não consigo - disse com sinceridade, começando a ficar consciente da injustiça que praticou com Fernando.
         O professor tomou a dianteira e disse:
         --- Ninguém consegue deletar a memória, até porque ninguém sabe onde esses arquivos estão alojados no córtex cerebral, que é o local do cérebro onde as experiências são registradas. Só podemos superar os traumas atuando nos sintomas que eles desenvolvem ou resgatando nossa história, nos autoconhecendo, descobrindo como e quando os desenvolvemos. Às vezes, quando o trauma é importante, precisamos da ajuda de profissionais da psicologia.
         Em seguida, suspirou e disse que a agressividade e humilhação geradas pelo fenômeno bullying eram arquivados de maneira privilegiada na memória, podendo gerar traumas significativos.
         Alguns alunos gelaram. Começaram a entender que pequenos gestos podem gerar grandes consequências. Vendo os alunos pensativos, o professor olhou para Fernando e corajosamente procurou resolver o conflito em sala de aula:
         --- Os fracos julgam e excluem os outros por serem diferentes, mas os fortes compreendem e incluem. Que é ser ofendido? Que fazer quando ofendido? Ter raiva? Sair da classe? Vingar-se? Ou fazer a oração dos sábios?
O professor, influenciado por Romanov, ensinava perguntando, provocava a mente de seus alunos como Sócrates fazia com seus discípulos. Era impossível não pensar. Curioso, Fernando perguntou:
         --- Nunca ouvi falar da oração dos sábios. Qual é?
         --- O silêncio. Só o silêncio contém a sabedoria quando a vida está ameaçada, sob risco, pressão, ofensa ? disse o sábio professor. E adicionou: --- Quem consegue raciocinar com brilho quando está nervoso? Na esfera do silêncio você deve abrir o leque da inteligência, romper as algemas dos arquivos doentios que financiam o medo, o ódio, a timidez, e procurar a mais excelente resposta.
         Enquanto orientava Fernando, Alex ficava em profundo silêncio pensando. Os alunos estavam aprendendo a caminhar nas trajetórias do seu próprio ser. Estavam aprendendo a proteger sua emoção, reeditar os arquivos doentios do seu inconsciente.
         O professor acreditava que se os alunos de todas as escolas da Terra aprendessem a fazer esse passeio pelo seu interior, aprendessem a arte da reflexão e, ao mesmo tempo, desenvolvessem habilidade para dialogar sem medo sobre seus problemas e conflitos, poder-se-ia prevenir milhares de traumas e até evitar suicídios.
Júlio César pediu para todos os alunos procurar seus pais, professor ou um amigo experiente em quem confiavam para contar os problemas mais graves. Ele valorizava muito a psiquiatria e a psicologia clínica, mas sentia que devíamos investir nossos esforços na prevenção pela educação, pois todos concordavam que a prevenção era a área mais fundamental da medicina.
         Momentos depois, o professor perguntou de maneira genérica:
         --- Alguém aqui já se sentiu diminuído por algum colega?
         Por incrível que pareça, mais de 80% da classe levantou as mãos. Alex também se sentiu diminuído nos primeiros três anos de escola. Ele era muito ansioso e espalhafatoso, não tinha coordenação motora, sentia-se um péssimo esportista. Sua atitude de agredir era uma projeção da agressividade que recebeu e que nunca foi resolvida. Por refletir sobre sua história, caiu em si.
         --- Beija! Beija! A festa depois do caos
         O professor ficou preocupado com o número de pessoas que levantou as mãos. Não esperava uma proporção tão grande. Em seguida, escreveu na lousa:
         Nunca valorizem um defeito físico de alguém ou um comportamento de alguém que vocês achem estranho. Valorizem suas qualidades e respeitem as diferenças. Jamais coloquem apelidos que diminuam as pessoas. Mesmo em tom de brincadeira, não copiem os programas de humor que debocham das características dos outros para fazer a platéia rir. Os verdadeiros pensadores são apaixonados pela humanidade, conseguem colocar-se no lugar dos outros e enxergar o invisível.
         Nesse momento, Alex captou Fernando com os olhos. Fez um sinal de positivo para ele, como se quisesse pedir desculpa. Os que perceberam esse gesto brincaram, gritando:
         --- Beija! Beija!
         Percebendo que Alex ficou inibido diante da turma, Fernando levantou-se, foi até seu ofensor e disse-lhe:
         --- Eu o perdôo.
         Numa atitude surpreendente, Alex levantou-se, deu-lhe um abraço e respondeu:
         --- Desculpe-me, eu fui um fraco.
         --- Não, reconhecer seu erro, o torna forte - reagiu Fernando.
         A classe aplaudiu. O clima estava tão agradável que o professor falou sobre o excelente código de ética do personagem mais famoso da história, o Mestre dos mestres, Jesus:
         --- Não façam para os outros o que vocês não querem que os outros façam para vocês.
         O Mestre dos mestres respeitava incondicionalmente o ser humano. Ele valorizava mais a pessoa que erra do que os erros cometidos. Tratou com gentileza até seu traidor, Judas Iscariotes. Deu-lhe oportunidade até o último momento para ele reescrever sua história.
         Em seguida, o professor disse que, se os alunos não querem ser ofendidos, que não ofendam. Se não querem ser rejeitados, que incluam. Se desejam ser elogiados, elogiem. Se querem o carinho e a atenção dos outros, dêem-lhes primeiramente seu apoio, coloquem-se à disposição de quem precisa. A ética de Jesus Cristo está no centro da educação para a paz. Se as sociedades vivessem esse princípio, não haveria lutas religiosas, os generais seriam jardineiros, os policiais, poetas, as indústrias de armas se transformariam em indústrias de alimentos, as guerras seriam apenas cicatrizes nos textos de história.
         Os alunos ficaram fascinados. De repente, um deles fez uma pergunta fatal:
         --- Professor, você também foi humilhado por seus colegas na escola? ? indagou Mário, pensativo e sem inibição. Pego de surpresa, Júlio César fez a oração dos sábios. Após um momento de reflexão, resolveu contar alguns capítulos da sua vida que lhe trouxeram grande sofrimento. Sentiu que era o momento de se humanizar, cruzar a sua história com a históriü dos seus alunos. Inundado por intensa emoção, ele disse:
         --- Nos primeiros anos de escola eu sofri muito. Perdi meu pai quando eu tinha nove anos de idade.  Jogávamos futebol, pescávamos e passeávamos juntos freqüentemente. Ele era meu melhor amigo. Era valente, forte, parecia imbatível, mas um dia sofreu um infarto fulminante. Da noite para o dia, perdi meu ponto de apoio - disse o professor, intensamente comovido.
         Após uma pausa, continuou: - Além da dor insuportável de perder meu pai, um ano depois alguns colegas começaram a zombar de mim por causa da minha estatura e pelo tamanho do meu nariz. Estão vendo meu enorme tamanho? - brincou.
         Os alunos sorriram. Em seguida, brincou novamente: - Estão vendo essa bela ferramenta de respirar? Meu nariz não é lindo? - e apontou para seu avantajado nariz de descendente de italiano. - Sabem qual eram os apelidos que me machucaram muito na adolescência? - E respondeu em seguida: - Tampinha e Tucano. Vejam que as palavras até combinam - falou em tom de humor para uma classe que se deliciava em ouvi-lo. - Felizmente superei meus conflitos, mas vocês não imaginam a dor que senti por me sentir rejeitado. A dor da rejeição é uma das mais dramáticas experiências psíquicas. Sentia-me inferior aos amigos. Era inseguro, fechado, tinha medo de me aproximar de uma garota. - E brincou: - Hoje sei que sou lindo!
         Para finalizar, o professor pediu para os alunos se levantarem, se abraçarem e dizerem uns para os outros que eram lindos. Foi uma festa. O diretor, ouvindo as gargalhadas, assustou-se. Dirigiu-se apressado até a classe. Ficou boquiaberto com tanta alegria.
         Romanov também se dirigiu apressadamente ao local. Entrou no clima, abraçou muitos alunos. Afinal de contas, um dia os colegas e professores se separariam. Muitos teriam saudades uns dos outros, mas nunca mais se veriam. Portanto, tinham de aprender a se curtir e a criar amizades com raízes que suportariam os invernos da existência.


Augusto Cury do livro Filhos Brilhantes, Alunos Fascinantes