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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O bullying nosso de cada dia


Autor: René Amaral

Por que os Bulidos se Tornam Bulidores

Sempre fui uma criança diferente, mesmo hoje aos 55. Durante a infância temporal, entretanto, era mais diferente ainda, emocional e instável e como se não bastasse, com uma condição econômica inferior a de meus colegas, eu não me encaixava em nenhum grupo. Estudava (com meus estudos pagos por minha afluente madrinha) numa escola cara, experimental, para crianças de classe média alta e abastada. Como se não bastasse, era TDAH (Transtorno de Deficiência de Atenção e Hiperatividade), coisa que só foi totalmente definida como transtorno muito recentemente, na década de 80; na época (Anos 60/70) chegaram a me diagnosticar com desrritimia cerebral. Minha inteligência sempre foi considerada acima da média, mas meus resultados acadêmicos, na maioria das matérias que não me apaixonavam (matemática, física, química, biologia), sempre foi medíocre, ou ridiculamente abaixo da média. Como se não bastasse, a minha capacidade de prestar atenção a absolutamente tudo a minha volta, menos o que realmente importava no momento, foi rapidamente percebida pelos meus algozes, e entendida como a sinalização da fragilidade que excita os valentões (detesto anglicismos) sempre à espreita da identificação de qualquer forma de 'fraqueza'. Como nunca levei desaforos para casa, era comum ter uma ou duas brigas por semana, e passava um considerável tempo na sala de D. Estella, do SOE (Serviço de Orientação Educacional) esperando para ser admoestado por minha capacidade de me meter em encrencas. Professores são os maiores aliados dos valentões, não me pergunte por que.

Com o tempo, passei a me isolar, o arranjo da sala era distribuído conforme a ordem alfabética, e sendo eu um R (René) sentava-me no fundo da sala. Lá, passava as aulas que não me despertavam paixão, desenhando nas ultimas páginas dos meus cadernos, que jamais viram uma anotação de matéria sequer, eu era muito distraído para isso; o que aprendia, das aulas que me interessavam, foi por osmose, e admiração pelos professores. Méritos especiais para D. Magnólia (português), Aldemir (História ) e José Luiz (Geografia). Esse isolamento, combinado a outros fatores, me levaram sempre a estar entre os grupos minoritários, os nerds (na época CDFs, Cús de Ferro) eram mais acolhedores, ou tolerantes, que os mais intensamente físicos de meus colegas, mas mesmo entre eles, a diferença era grande.

Sofri intensamente nos primeiros dois ou três anos, as provocações naturais entre calouros e veteranos não pararam quando me tornei veterano e cheguei a ser humilhado e espancado por calouros, mais fortes e em maior grupo que eu sozinho. Era constantemente ridicularizado por colegas e mesmo desconhecidos. O adolescente é algo assim como um animal selvagem, que pelo cheiro, ou outro mecanismo, identifica a fragilidade de suas presas e prontamente parte para o ataque. A facilidade de me levar às vias de fato, me rendiam sempre punições e castigos, que eram poupados aos que me intimidavam, eles eram normais.

Quando, no meu 3º ou 4º ano nesta escola, entrou na turma, transferida de outra escola, uma pessoa igualzinha a mim, não por ser TDAH, mas por ser diferente e frágil, e por ter uma aparência física que não despertava simpatias, a Elisa, me senti revigorado. Era a minha chance de sair do foco da crueldade (inconsciente e inconseqüente, mas mesmo assim, crueldade) dos colegas. Eu desenhava muito bem e tinha algum dote para a caricatura, e comecei, logo eu, a intimidar e bulir com a colega. Fazia cruéis caricaturas no meio do quadro negro, das quais muitas vezes os próprios professores riam (como eu disse, os maiores cúmplices dos valentões são os professores e orientadores) e meus colegas se deleitavam. Só que isso não aliviava a pressão sobre mim, continuava alvo de brincadeiras cruéis e agressões, a turba ignara que pode ser um grupo de adolescentes é como uma matilha de lobos, capazes de tudo, até mesmo contra os semelhantes, nessa matilha eu era o ômega (*). Quanto mais me intimidavam, mais cruel eu mesmo me tornava com minha colega, coitada, com menos condições de se defender que eu.

Essa condição perdurou enquanto estive nessa escola. A medida que o tempo passava eu percorri o calvário do Hiperativo, isolado pelos colegas Alfa (os rapazes preferidos das garotas) e pelos Beta (os CDFs), a condição de Ômega me levou a frequentar, cada vez mais, o grupo dos excluídos, dos marginais (no sentido de viver à margem). Drogas, isolamento e misantropia. Passava horas na biblioteca, chegava a matar as aulas que não me interessavam para ir para a biblioteca ler, e não ter que disputar espaço no recreio com os que queriam me intimidar, havia cansado das brigas.

Cansado de brigas e intimidação, mas ainda inconsciente do mal que eu mesmo era capaz de causar e havia efetivamente causado. Condição que só mudou, já na idade madura, quando em sessões com a sapientíssima psicoterapeuta, Dra. Suely Engelhardt, fui diagnosticado, ainda que tardiamente, como TDAH, e levado a conhecer, no processo de terapia, os recônditos mais sombrios de mim mesmo (coisa de todos nós, independente da condição clínica). O valentão mora em nós, a covardia é condição si ne qua non para a intimidação. Da parte dos valentões e da parte dos perseguidos. Da parte dos valentões a covardia é aquela mais pérfida, unem-se (como se fosse necessário) para perseguir e humilhar o perseguido; da parte deste, vem a covardia de não querer se defender, e a consequente,a posteriori, covardia de se aproveitar das mesmas condições que o levaram a ser alvo de perseguição.

Em recente encontro para comemorar 35 anos da formatura de nossa classe tive a chance de reencontrar, alguns dos valentões e minha vítima. Eu havia perdoado, mas não esquecido o que eu passei; mas a doçura e infinita bondade dessa que era vítima da minha cruel covardia, me mostraram o que mais me incomodou, ela havia me perdoado e esquecido o mal por mim perpetrado.

Dedico com carinho esse texto a minha bondosa colega, a Elisa.

*(Os lobos se organizam naturalmente em matilhas para manter a estabilidade e ajudar na caçada. As matilhas são geralmente grupos de três a sete lobos liderados por um macho alfa e uma fêmea alfa - ou casal alfa. A partir daí, os filhotes do casal e possivelmente lobos mais jovens sem parentesco compõem o resto da matilha.

O líder da matilha não é necessariamente o macho alfa. A fêmea alfa pode liderar em certos grupos, uma vez que a classificação dos lobos se baseia na força e na capacidade de ganhar lutas. Embora outros lobos dentro da matilha possam copular quando as presas são abundantes, o casal alfa normalmente é o único a se acasalar. Várias lobas na mesma matilha podem, no entanto, causar problemas porque lutam umas com as outras com mais freqüência do que os machos.

O lobo beta vem a seguir. Eles atuam como o segundo em comando, tomando posse caso o macho alfa morra e possivelmente acasalando também com a fêmea alfa. Quando um alfa fica fraco ou muito velho para liderar a matilha de maneira eficaz, o lobo beta pode desafiá-lo para uma briga, depois da qual o vencedor assume o comando.

No degrau inferior da escada, está o lobo ômega, que é o mais fraco e com o qual a matilha menos se preocupa. Aviltado por outros membros, o lobo ômega recebe a violência da agressão no mundo dos lobos, particularmente durante brigas entre matilhas. Às vezes, esse antagonismo culmina no ponto em que o lobo ômega deixa a matilha e parte para viver isolado do grupo. Mas o lobo ômega também instiga a brincadeira entre os lobos para aliviar as tensões.)
 
Fonte:  http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-bullying-nosso-de-cada-dia


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Bullying pode alterar expressão de genes, descobriu estudo






 
O bullying pode deixar cicatrizes duradouras no ADN dos miúdos para além da sua psique, sugere uma nova pesquisa.

Um pequeno estudo descobriu que as crianças vítimas de bullying são mais propensas a ter modificações na expressão de um gene envolvido na regulação do humor em comparação com os seus irmãos gémeos idênticos que não foram intimidados.

"Uma vez que eram gémeos idênticos que vivem nas mesmas condições, as mudanças na estrutura química que envolve o gene não podem ser explicadas pela genética ou ambiente familiar", disse a pesquisadora Isabelle Ouellet-Morin. "Os nossos resultados sugerem que as experiências de vitimização são a fonte de tais mudanças".

Ouellet-Morin, do Kings College de Londres e da Universidade de Montreal, e a sua equipa examinaram 28 pares de gémeos idênticos, nascidos entre 1994 e 1995. Em cada um desses 28 pares, um gémeo tinha sido vítima de bullying, enquanto o outro não.

Parte da pesquisa incluiu a análise do ADN de metilação do SERT nas crianças, um gene que é responsável pelo transporte de serotonina, um neurotransmissor envolvido na regulação do humor e na depressão. (Metilação do ADN é um processo químico que afecta ou não se um gene se expressa em resposta a sinais físicos e sociais)

Os gémeos intimidados tinha uma maior metilação de ADN no SERT aos 10 anos em comparação com os seus gémeos não-vítimas de bullying, segundo o estudo. Além do mais, as crianças com níveis mais elevados de metilação SERT haviam anulado respostas do cortisol ao stress. Essas alterações poderiam fazer as vítimas de bullying mais vulneráveis ​​a problemas de saúde mental com a idade, disseram os pesquisadores.

"Muitas pessoas pensam que os nossos genes são imutáveis, mas este estudo sugere que o ambiente, mesmo o ambiente social, pode afetar o seu funcionamento", disse Ouellet-Morin. "Este é particularmente o caso de experiências de vitimização na infância, que mudam não só a nossa resposta ao stress, mas também o funcionamento de genes envolvidos na regulação do humor". O estudo foi detalhado online a 10 de dezembro na revista Psychological Medicine.


Fonte:  http://www.ciencia-online.net/2013/01/bullying-pode-alterar-expressao-de.html