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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Içami Tiba fala da importância da parceria de pais e educadores



por: Thaïs Roji


Içami Tiba é médico psiquiatra e autor de diversos livros sobre educação (mais de 4 milhões de livros vendidos). Além dos atendimentos psicoterápicos a adolescentes e suas famílias, também ministra milhares de palestras em escolas e programas de TV.

Esse mês está lançando seu 29º livro: “Pais e Educadores de Alta Performance”.

Tiba recebeu o Jornal d´aqui para um papo objetivo e esclarecedor sobre os jovens e a educação em geral.

Qual a grande diferença do jovem de hoje em relação às gerações anteriores?

Vamos começar com uma coisa bem simples: a família. É essencial ter um chefe de família, não importa se mãe ou pai. Mas pessoas que determinam o que os filhos têm que fazer. Atualmente, tem famílias ditas, “pseudo modernas”, em que os pais ficam muito permissivos e deixam os filhos fazerem tudo. E tem uma outra, que é uma família que está em crise, que não chega a se constituir, nem como a tradicional, nem como a moderna: seria a mãe com o “namorido”, filhos com outros filhos, pessoas morando junto por afinidade. Nessas, o que chama atenção, é que tem crianças que são cuidadas e crianças que são descuidadas.

O segundo tipo e o terceiro tipo, são descuidadas. São soltos, podem fazer o que quiserem, eu chamo de Crescimento Silvestre. Um problema de estruturação de valores. O que tem chefe, liderança, que fala isso pode, isso não pode, acaba dando valores melhores do que as famílias que deixam os filhos fazerem o que tem vontade. São os filhos que a gente chama de negligenciados.

Negligenciados por vários motivos. Por que não sabem o que fazer com o filho. Não está no modelo antigo mas também não encontrou um novo. Muitas vezes são pais que lutaram muito pra conseguir as coisas e não querem que os filhos sofram.  Então os filhos crescem como se fossem bicho do mato, no meio da cidade em termos de valores.

Um dos valores que se perdeu é o respeito pelo outro. E nessa falta de respeito pelo outro, não custa nada o mais forte abusar do mais fraco. É quando acontece o Bullying.

O Bullying é uma falta de valores e respeito humano. Uma forma de preconceito. “Eu quero, posso, eu faço”.  Faltou na educação a etapa do “Eu devo”: “Eu quero, eu posso, então eu faço... mas eu devo fazer?” O agressor, o bully que se sente forte, muito mais na posição interna do que fisicamente falando. O que caracteriza o Bullying é a não reação da vítima. Porque se os dois são menores, vira briga, aí não é Bullying. O Bullying acaba quando o agredido passa a reagir. (Leia mais sobre o assunto abaixo)

JDA: A nova realidade, as redes sociais, é um incentivo para isso acontecer? O Bullying na realidade é um novo rótulo para algo que sempre existiu?

Sempre existiu. No Bullying não é a vítima que é o principal. Aquele que é silvestre, que é entregue ao poder da força, da inteligência, do dinheiro, do bonito, se vê na condição de superior, acha que é mais do que o outro e começa a judiar de todo mundo, brinca com todos só que um deles não reage. Aí se transforma em Bullying. O que brinca com todos, sempre vai brincar com todos. Aquele que não reage, passa a ser a vítima. Por que? Porque aí a turma toda interfere. É como um peixe no aquário que começa a ficar doente, os outros começam a picar o peixinho, que não reage e acaba sendo comido pelos outros.

JDA: E a internet, influi como nisso?

A internet é só uma ferramenta. É o valor interno das pessoas que mudou. Quem não tem valor, não tem o que perder. Quem não tem o que perder, faz o que quer. Não tem o que cuidar. Não cuida nem do próprio pai, não cuida da mãe,...

JDA: E não é cuidado...

Não é cuidado. E muitas vezes os pais negligentes querem cuidar dos filhos numa hora em que eles já estão muito crescidos.

JDA: Aí que vem a importância da educação na primeira infância? O Sr acredita que uma educação nesses primeiros anos, atenta, amorosa, dedicada é fundamental para o desenvolvimento saudável desse ser humano?

Hoje os filhos são muito mais entregues a cuidadores e isso é muito ruim. Não existe uma figura central que se responsabilize. E aí o que acontece? As pessoas começam a não ter padrões. Entrega a criança para o cuidador, o terapeuta, a babá, uma escola... As escolas infantis, muitas são cuidadoras. A mãe não tem com quem deixar o filho e com menos de um ano já a coloca numa escola.

JDA: Qual seria a idade ideal para colocar a criança na escola?

A idade boa para a criança ir para a escola é 3/4 anos. Uma criança com 2 anos fecha a socialização elementar, isso é, um ciclo de desenvolvimento de auto conhecimento. Onde ela já sabe manifestar suas necessidades, se quer dormir, se quer comer, necessidades fisiológicas. É ela e ela mesma. Depois vem um período que vai até os 4, 5 anos de idade que é a socialização familiar. Aprende quem é a mãe, quem é o pai, quem deve prestar contas, quem vai cuidar dela, coisas desse tipo. Hoje uma criança fica mal, não sabe quem chamar. Se chama o motorista, a babá, mãe ou pai, olha que confusão. Bom, depois dessa socialização familiar pronta, ele tem um nome familiar. Aí pode receber outro que agrega. A socialização comunitária, dos colegas, da escola. A criança hoje está recebendo como nome, a socialização comunitária e não a da família. Nós estamos atropelando uma etapa. E esse atropelo repercute na formação. Aí a criança, o jovem vai se juntar mais para judiar, porque ele não tem uma formação familiar de cuidar do irmão ou de outro e coisas desse tipo.

São vários pontos que determinam o que está acontecendo hoje. Um deles é a falta da força de família. A convivência com uma pessoa que lhe passe valores. A família como transmissão de valores. E não provedores. Provedor a gente acha em qualquer lugar, até o Estado é provedor.

As crianças de dois anos, por exemplo, estão numa faixa de ampliação pro mundo. Hoje tem pesquisas que mostram que uma criança que fica com alguém que converse com ela, a babá, a mãe, seja quem for mas que dê atenção especial, se desenvolve mais do que a criança que vai pra creche. Porque a ideia é de que se fosse para a creche, estaria cuidada. Não é! É menos solicitada, fica mais solta, ninguém fala com ela. Não estou dizendo que todas são assim, estou falando na média. E aí, medindo o número de palavras, do aumento de vocabulário, geralmente por volta dos três anos de idade, a criança que tem uma pessoa que de fato está presente, fala muito mais, é mais viva, percebe mais coisas. Quem está na creche não, fica meio bitolado. E isso reflete primeiro no vocabulário, e se reflete no vocabulário, reflete no desenvolvimento. A coisa é mais séria do que se está falando. A criança, se tiver que ir cedo para a escola, pelo menos que fique meio período.

JDA: Ao mesmo tempo existe uma pressão e aceleração da vida, não? Essa nova legislação para as crianças serem alfabetizadas com 6 anos de idade...

Acho esquisito, você não acha? Como que tem uma lei que regulamenta para as crianças com 6 anos de idade mas tem escola desde os 2 anos. Não é esquisito? Deveria mudar de nome, não é escola. Assim como a puberdade tem um tempo para chegar, as socializações têm um tempo pra chegar. Tem o tempo de brincar. Eu tenho a impressão que esses atropelos todos estão distorcendo um pouco e fazendo com que o Bullying, mesmo que exista há mais tempo, sofra uma espécie de socialização. Qualquer lugar hoje tem Bullying. Eu acho que isso não é o resultado do avanço, não é a internet que favorece, são as pessoas mal formadas que usam a internet, que pode ser usada para o bem ou para o mal, como tudo na vida.

Quem comanda, teoricamente, o ensino público é o governo, existem coisas muito absurdas, como que “falar errado, tá bom”. Ou a aprovação sistemática. Você soma um cara que não sabe ler, que fala errado e que é rico, pois o Brasil é o sétimo no PIB, essa pessoa sem educação, falando errado, o que acontece? Está totalmente indefeso. O governo está fazendo do povo o que ele quer. Nós estamos a caminho de um grande autoritarismo. Isso mostra como a sociedade está doente. Eu acho que é um nó muito maior do que a gente está pensando.

JDA: E os pais de vítimas de Bullying, como devem proceder? Imagino que devam vir muitos pais no seu consultório...

Infelizmente os que vêm são sempre os pais da vítima. Os pais dos agressores sempre acham que está tudo normal, que a vida está boa. “Pra que interferir, meu filho é o forte!” Os agressivos, que não são repreendidos são os que mais tarde farão as contravenções, e não simplesmente pequenas transgressões. Contravenção é crime. Matar porque não atendeu seu desejo, coisas desse tipo. Os pais do agressor, em geral acabam sendo vítimas das cobras que criaram, depois de um tempo.  Seus filhos passam a exigir que sejam sustentados, passam a agredir seus pais, etc. O agressor é o problemático.

JDA: Como fazer a escolha certa da escola? A impressão é que as escolas, de um modo geral, estão mais preocupadas com a competitividade do mercado de trabalho, com vestibular, do que com o respeito humano e valores essenciais para o ser humano.

A escola quer agradar os pais. O que os pais querem? Que o jovem entre na Faculdade.

JDA: Então a qualidade da escola decaiu?

Lógico que decaiu! E isso é um grande problema, muito maior do que se pensa. Uma escola que tenha professores que não sejam respeitados, porque não adianta a escola respeitar os professores se na própria casa do aluno, eles são desrespeitados. E quem paga o preço? A formação dessa nova geração. Por isso que eu acho que a escola e os pais hoje têm que fazer uma parceria. Esse é um dos sinais que nos mostra que vivemos  um grave problema social. O problema é que os filhos são indiferentes a tudo e a todos. Eles são ego centrados. Os outros são extensão do que eles desejam. Hoje nós temos que preparar quem mexe com criança e adolescente na função de educador. E ter essa parceria com os pais. Essa parceria é essencial. Esse é o tema do meu último livro, “Pais e Educadores de Alta Performance”,  para cuidar de filhos e alunos.

JDA: A perspectiva é muito pessimista, não?

Não, eu sou otimista! Vai ter que mudar. Eu luto para essa perspectiva. Vale a pena batalhar bastante... Quem está acordado, que desperte os outros.

Para o trabalho de prevenção e atendimento ao bullying:

Testemunhas: estimular a delação saudável, explicando que o silencioso é conivente e cúmplice do agressor. Garantir proteção e sigilo às testemunhas, que permanecerão no anonimato.

Vítimas: mantê-las sob vigilância “secreta” sob a atenção de todos os adultos da escola e adolescentes voluntários neste ato de civilidade no combate ao Bullying. É perda de tempo esperar que as vítimas venham a reclamar dos seus agressores.

Agressores: é necessário aplicar o princípio das consequências que são medidas tomadas pelas autoridades educacionais que favoreçam a educação. O simples castigo não educa. O agressor identificado deve fazer trabalhos comunitários dentro da escola, como auxiliar em algum setor que tenha que atender às necessidades das pessoas. Pode ser numa biblioteca, na cantina da escola, enfermaria ou setor equivalente. No lugar de agredir a vítima, ele deverá cuidar dela. Quem queima mendigos deve trabalhar com queimados, fazendo-lhes curativos e não ir simplesmente para a cadeia. Isso deve ser feito durante o recreio ou intervalo, usando o uniforme usual do setor.

Integração entre escola e pais, tanto do agressor quanto da vítima: quanto mais se conhece as pessoas, mais elas se envolvem e menos coragem têm para fazer mal umas às outras. Mudanças destes alunos para outras escolas não são indicadas. Todos aprenderão na correção dos erros praticados e não através dos erros cometidos.

Mais informações: www.tiba.com.br

 Fonte: http://www.jornaldaqui.com.br/materia.php?id_artigo=4154&id_categoria=2

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