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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Bullying: caminhos para dar freio na violência escolar

Era uma vez um menino com ótima situação financeira e um futuro promissor. Quando criança, no colégio, o estudante foi apelidado de 'Pelanca'. O nome pegou e todos passaram a chamá-lo assim, não só na escola onde estudava, mas em todos lugares. A 'brincadeira' foi tanta que logo se transformou em problema. O jovem resolveu parar de estudar e largou a escola. Hoje, aquele que poderia ter se formado um profissional com formação de nível superior, é um simples balconista. Pode parecer ficcão, mas a história, infelizmente, é real. O menino da história é amigo de Edison Borba, coordenador pedagógico do Programa Inovar para Crescer nas Escolas (Pince). O roteiro que se fez triste realidade na vida deste indivíduo se repete cada vez mais na sociedade moderna. E muitas são as crianças que sofrem com as 'brincadeiras' indesejadas e agressões físicas ou verbais. Em abril, em uma Escola Municipal de Realengo, o mesmo bairro em que ocorreu o massacre na Escola Tarso da Silveira, um aluno de 13 anos tentou suicídio após ser alvo de deboche dos colegas e de ser agredido, supostamente por ser o melhor da turma. O jovem teve parada cardíaca e foi internado em um Hospital da Zona Oeste.

Hoje conhecidas como bullying, tais atitudes, além de ferir de forma drásticas suas vítimas, também podem refletir no futuro econômico e profissional do país. Muitos bons alunos são considerados por outros 'CDFs' ou 'nerds' e, por isso, sofrem com vários tipos de discriminação e violência. Assim, quem poderia se tornar um bom cidadão e um profissional competente e inovador, acaba por se tornar alguém muitas vezes depressivo e com problemas psicológicos. "Eu não sei se esse meu amigo seria hoje um doutor se não tivesse esse apelido. Mas sei que esse mesmo apelido acabou com a vida de um homem", afirma Edison Borba. Para o coordenador do Pince, programa que busca despertar o interesse de alunos para o desenvolvimento de ideias empreendedoras, quando alguém sofre bullying não é só a vítima e a família que perdem, mas toda a sociedade. "Muito se fala em desenvolvimento e inovação, mas as pessoas se esquecem de que é o homem quem cria ideias. Uma pessoa que sofre não é criativa e nem rende tanto quanto poderia. O governo e os empresários deveriam estar mais atentos a essa questão, pois o desenvolvimento da sociedade e do país também sai perdendo com o bullying", afirma.

Ainda falta preparo para combater o problema - Exatamente pela gravidade do tema, proliferam ações e debates voltadas para a conscientização a respeito do bullying. O assunto foi o tema da 3ª Oficina pedagógica do Programa Inovar para Crescer nas Escolas - "Bullying: um desafio para a sociedade inovadora" -, onde estavam presentes alunos, professores, coordenadores e diretores de escolas do ensino fundamental e médio das redes públicas e particulares. Todos reconhecem que ainda há muito o que fazer. Hoje, nas redes públicas de ensino, a prevenção é o máximo que os educadores podem realizar. Quando, no entanto, a prevenção não é suficiente e os atos de agressão acontecem, não há mais nada que os professores podem fazer. "As redes não têm um sistema de tratamento para estas pessoas. Quando identificamos o problema, a única coisa que podemos fazer é notificar a família. O problema passa a ser deles", reconhece a professora do Colégio Estadual Júlia Kubitschek, Valéria de Araújo Medeiros. No evento, Valéria relatou o caso de uma aluna que sofreu bullying por ter experiências profissionais e querer passar tais conhecimentos para os outros estudantes. A aluna foi isolada, pois segundo os outros, queria 'aparecer'. "Mudamos de turma tanto a estudante que praticou, como a que sofreu bullying".

Mas esta, segundo a professora, é uma solução paliativa, que só transfere o problema de lugar. Um outro obstáculo comumente encontrado nas escolas públicas, de acordo com Valéria, é a tendência que essas instituições possuem de não dar importância a determinadas situações. "Os colégios particulares costumam agir mais a respeito desse problema, mas geralmente as escolas públicas fazem vista grossa para essa situação, afirmando ser somente uma brincadeira. Como este é um problema difícil de se resolver, acabam deixando para lá", revela a professora da Júlia Kubitschek. Para o coordenador pedagógico do Pince, Edison Borba, o bullying é também uma questão de saúde pública. "A discussão não é sobre segurança, mas sobre saúde. Tanto quem pratica, como quem sofre com bullying, são pessoas doentes, ou que se tornam doentes. É preciso tratá-las", defende. Prevenção ainda é o melhor remédio - A professora do Colégio Estadual José Veríssimo, Rosa Maria dos Santos, trabalha com esta questão, através de apresentações e debates, desde o início do ano letivo, independente de percebê-la ou não na turma. "Geralmente, os alunos que praticam o bullying vêm de lares desfeitos ou violentos. Esse jovem acaba por reproduzir essa violência que vivencia", acredita.

Para o procurador da Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Telius Memória, o bullying não é um fato, situação ou crise, mas um comportamento social que sempre existiu e sempre vai existir. O que cabe à sociedade é fazer com que essa prática se apresente o mínimo possível nas pessoas. "Todos falam em combater o bullying, mas ninguém explica como isto deve ser feito", critica. Para ele, é preciso transmitir valores aos indivíduos desde a infância. E formar novas mentalidades. "Esse aprendizado tem que vir desde o ensino fundamental. Se o prório nome diz que é fundamental, significa que o que se aprende lá é básico, essencial". Ainda segundo o procurador da Justiça, criminalizar o bullying não é a solução. "Leis não funcionam se o comportamento das pessoas não mudar. E para alterar esse comportamento é preciso proporcionar aos indivíduos maior acesso à cultura. Só com cultura e conhecimento será possível que as pessoas tenham plena compreensão dos seus atos", defende Telius.

Jovens dramatizam suas experiências pessoais para alertar sobre o problema - Um dos temas mais discutidos atualmente, principalmente após a tragédia da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, o bullying está em pauta na mídia - e também nas escolas. Na maioria das vezes, o assunto é exemplificado por atos de vingança, reações na mesma moeda das agressões sofridas. No entanto, nem sempre uma criança que sofre bullying transforma seu sofrimento em ações negativas. Um bom exemplo disso é Juliana Duarte, de 27 anos, que aos 12 anos de idade, quando se mudou para Porto Alegre, sofreu com as gozações de seus colegas na nova escola. Há um ano, aproximadamente, a jovem teve a ideia de usar sua experiência para conscientizar alunos e profissionais da educação sobre a prática do bullying.
Junto com mais três atores, Ana Beatriz Corrêa, Rafael Oliveira e Alisson Silveira, Juliana exibe slides com informações sobre o tema e, em determinados momentos, o grupo encena situações típicas do cotidiano de estudantes que sofrem com as agressões de seus colegas. O responsável por transformar as histórias em esquetes de teatro foi o roteirista e ator João Pedro Roriz. "Vemos muitas peças para crianças e adultos, mas poucas para adolescentes. Então, decidi levar cultura e informação para eles. Quis falar sobre bullying, porque eu sofri sem ter entendimento do que era. Assim como muitas crianças, meu sobrinho de 12 anos dizia que não sabia o que era bullying. Falam tanta coisa que acaba confundindo. Foi a partir daí que pensamos no projeto. E cada um trouxe suas experiências", contou Juliana, que atualmente é casada com um dos meninos que implicavam com ela. A palestra dramatizada "Bullying – Não quero ir pra escola" conta a história de dois alunos, que sofrem gozações de seus colegas e, por isso, não querem mais estudar. Ao longo da apresentação, os atores falam sobre como identificar quem sofre e quem pratica a agressão, tipos de agressores, espectadores, cyberbullying, entre outros assuntos.

Um tema importante, lembrado por eles, é que aquele professor que compactua com apelidos pejorativos, intimida determinados alunos, expõe problemas e adota critérios diferentes de avaliação numa mesma turma, também está praticando bullying. "Hoje em dia, qualquer coisa é vista bullying, e não é bem assim. Nossa preocupação é mostrar quais são as ferramentas que a vítima tem para interromper esse processo, conscientizar os espectadores, que são aqueles que compactuam com a prática, e também o agressor. Temos recebido um retorno maravilhoso dos alunos", comentou Ana Beatriz, citando o caso de um jovem que se identificou como agressor e pediu desculpas em público para o seu colega, durante uma apresentação em Presidente Prudente. O ator Alisson Silveira, que interpreta uma vítima de bullying na peça, revelou que já foi um agressor na vida real e só se deu conta do que fazia durante a montagem da peça. "Para mim, aquilo era apenas uma brincadeira. Nunca tinha parado para pensar que fui um agressor. Eu fazia para ser igual aos outros, pois quem foge da uniformização, vira um alvo fácil", falou. (Thiago Lopes).

Fonte: Folha Dirigida
http://www.sinepepr.org.br/sinepe_on_line

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