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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Dilema para o flerte da Psicologia com a Justiça?

Divididos entre a resolução do Conselho Federal de Psicologia, que proibiu a categoria de assinar laudos periciais, e a Sociedade Brasileira de Psicologia, que é contra a decisão, os psicólogos brasileiros vivem hoje o dilema de auxiliar ou não a Justiça a decidir sobre a vida de prisioneiros que precisam passar por uma avaliação psicológica para serem colocados em liberdade ou não. O problema esteve entre os maiores debatidos pela palestra “Psicologia forense e análise do comportamento”, realizada no último dia 15 em Belém pela professora e doutora Paula Gomide, presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), no Auditório Davi Mufarrej, na Unama. Nessa entrevista exclusiva cedida ao DIÁRIO, com participação do editor Sérgio Augusto Nascimento e do repórter Raimundo Sena, a psicóloga fala ainda sobre violência sexual infantil e bullying, entre outros assuntos, além da expectativa gerada pela Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, que será realizada pela primeira vez em Belém, de 26 e 29 de outubro próximo, no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia.

P: O Conselho Federal de Psicologia decidiu que os psicólogos forenses não devem mais assinar os laudos de avaliação dos presos, mas Sociedade Brasileira de Psicologia é contra. Quem tem razão?


R: No ano passado, o Conselho Federal de Psicologia fez três resoluções em que determina que o psicólogo não deve fazer laudo para fornecer ao juiz e não deve fazer o chamado “depoimento sem dano”, que é ouvir crianças abusadas sexualmente num ambiente protegido, que é um procedimento que nós que somos especialistas em abuso sexual apoiamos. O que o Conselho entendeu? Algumas pessoas que estão lá, que têm uma abordagem teórica diferente da dos especialistas da área, entenderam que o psicólogo não deveria se envolver, que quem deve tomar essas decisões é o juiz, já que o sistema é muito ruim como é, e eu concordo, que o sistema é inapropriado, e que e a carga dessa decisão deve ser só do juiz, o psicólogo não deve fazer isso. E o que eu digo sobre isso? O psicólogo especialista não pode ser omisso, já que ele tem a formação para fazer esses diagnósticos precisos e informar ao juiz qual é a melhor atitude. Quando ele informa ao juiz, ele tem mais chance do juiz acertar. Se o psicólogo se omite dessa situação, pra não ser conivente com as coisas erradas, ele está deixando de ocupar o papel legítimo que ele tem. Então nós não concordamos com isso. O que houve agora, recentemente, há mais de um mês: o Rio Grande do Sul entrou com um mandado de segurança contra o Conselho Federal de Psicologia e o Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, ganhou esse mandado de segurança, por se entender que quando o Conselho Federal diz o que diz, ele tem uma atitude ilegal e inconstitucional. Isso porque não função do Conselho Federal de Psicologia dizer o que o psicólogo pode ou não fazer. A função é fiscalizar. Não se decide o que fazer numa assembleia de psicólogos, como o Conselho Federal de Psicologia tem feito. Não é assim que a Psicologia, como ciência, se comporta. Então a Sociedade Brasileira de Psicologia é contra as resoluções. Já nos posicionamos publicamente e agora então eles perderam a ação e no Rio Grande do Sul. Todos os psicólogos podem fazer o “depoimento sem dano”, porque o tribunal decidiu que é prerrogativa do psicólogo exercer essa profissão [de psicólogo forense] plenamente. E isso que aconteceu no Rio Grande do Sul está acontecendo nos demais estados e todos vão retomar a suas atividade normais.


P: Houve um crescimento na taxa de violência contra crianças nos últimos anos? O que fazer para evitar que a criança abusada sofra com danos ainda maiores decorrentes da violência sofrida?

R: A criança que sofre um abuso sexual normalmente, na grande maioria das vezes, é vítima de pessoas próximas que até deveriam cuidar, como pai, mãe, padrasto, avô, tio, enfim, dentro da casa. Se não for tratada, ou se esse abuso não for identificado, ela terá problemas seríssimos no futuro. Um deles é se tornar também um abusador. O que nós temos na base do abuso sexual? Grande parte dos criminosos de que nós estamos falando tem abuso sexual na história. Os psicopatas têm abuso sexual na história. Então o abuso sexual está permeando a história de infratores, de usuários de drogas, muito fortemente. É preciso que os pais fiquem atentos. Aqueles que são omissos, que têm medo de perder o provedor, precisam saber que precisam ter apoio dos órgãos competentes. O tratamento de vítimas de abuso tem que ser estendido à família e ao abusador, também. Então é importantíssimo o tratamento porque as sequelas são muito violentas. E as pessoas podem perceber, por exemplo, na escola. Tem uma criança de sete anos indo muito bem, estudando, respondendo de repente ela muda o completamente o comportamento, fica desatenta, dorme na sala, vem suja, não faz mais o dever, se esconde, não brinca mais, muda os hábitos de sono, de comer... Tem que investigar o que está acontecendo, alguma coisa séria está acontecendo.


P: O bullying é uma redescoberta do valentão, do malvado?


R: O que se tem melhor hoje é o entendimento das consequências do bullying, não é? O que é preciso entender é que não é xingamento ou a desqualificação só. Essa humilhação, essa desqualificação, feitas pelo agressor do bullying, só terão efeito se aquela pessoa não souber reagir, não tiver uma fonte de apoio, e vai aceitando. Isso é que faz aquela pessoa sofrer e ter consequências muito sérias, porque ela vai ficando pra dentro. É excluída do grupo, sem compreender porque na verdade ela não fez algo que justificasse. Daí ela chega em casa e não tem apoio, não tem um pai e uma mãe presentes, que vão à escola ou falam pra ela reagir dessa ou daquela maneira, ou um professora que perceba e saia na defesa. Então essa pessoa sofre bullying quieta. É esse que é o problema. Então isso é um bullying bem articulado, que estava sendo processado. O que a Psicologia faz e deve fazer? A identificação do bullying que é fácil de fazer. Quem são os agressores, quem são as vítimas? A gente faz isso através de entrevistas com a criança, simples coleta de dados. Depois de identificados, você vê que comportamento eles estão usando para fazer o bullying, e então é feito o trabalho de grupo, em que se invertem os papéis da pessoa que faz o bullying, para seja a vítima do bullying, e que treine as professoras pra fazer as intervenções necessárias. Então há um treinamento todo nesse sentido, para inibir e fortalecer a vítima e mostrar ao agressor outras formas deles liderarem.

P: Fale sobre a reunião que a SBP vai realizar aqui...


R: A Sociedade Brasileira de Psicologia está fazendo este ano a 41ª reunião em Belém. Nós fazemos uma reunião anual itinerante em vários estados, várias cidades, e nunca fizemos aqui no Norte do Brasil. Então nós temos cursos pra iniciantes, básicos tipo introdução à psicologia social, a até cursos sofisticados, sobre como se publica um artigo num periódico estrangeiro. Vem a Belém um especialista americano que falará sobre a violência contra a mulher e a violência sexual, um canadense que vai tratar da prevenção na escola do bullying, temos uma espanhola que faz estudos básicos sobre comportamento, e um professor da Inglaterra que vai dar um curso sobre observações com microcâmera, estudos sofisticados de coleta de dados. E temos várias conferências. Os cursos são desde terapia de casal pra todo tipo de aluno, todo tipo de profissional. Resolvemos trazer então a Belém essa sociedade, que é a mais antiga e bem prestigiada, e que traz congressistas palestrantes estrangeiros sempre para dividir esse momento especial com os estudantes da região, dos outros estados, para que a gente possa discutir o que há de mais novo na ciência psicológica, nas suas várias abordagens.



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