Então hoje, na hora do almoço:
- E o fulaninho da minha classe que virou menina? – disse o Lucas, cuspindo a comida de tanto rir.
Eu já ia levando o garfo à boca e parei por dois segundos para pensar no que dizer. Pensei que o molequinho tivesse dado uma desmunhecadinha e, pronto!, foi o motivo para a sala zoar o pobre o dia todo. Já tinha preparado a bronca:
- Por que, Lucas? Ele trocou o pênis por uma vagina?
Aí ele se babou todo de tanto gargalhar.
- Não, mãe. Ele escreveu aquelas coisas que só as meninas escrevem…
- E o que é que uma menina escreve e que menino não pode escrever?
- Ah, cartinhas de amor. Isso é coisa de menina. A professora que disse isso quando ela achou a carta (e aí Luquinhas afinou a voz e imitou a vaca): “Ih, fulano! Tá escrevendo essas coisinhas é? Tá virando menininha?”
Minha feição mudou de tal forma que o Lucas parou de rir imediatamente.
Contei para ele que as grandes cartas de amor da humanidade, as maiores, foram escritas por homens. Falei de Vinicius, Neruda, Pessoa, Chico, Aldir. Perguntei se, ao namorar de verdade com uma garota, ele vai lhe dar um tapa na cabeça ou uma carta de amor.
- Uma carta de amor, lógico.
Ufa. Um idiota a menos no mundo.
**
Hoje à noite vou mostrar-lhe todas as cartas de amor que já recebi. Dezenas delas. Das mais simples às mais rebuscadas. Dos bilhetes curtos às mais prolixas. Das escritas no começo de tudo às mais doloridas. Das mais antigas, amareladas, às últimas. Guardo todas.
E estou pensando em contactar o marido dessa professora. Porque já passou da hora da dita cuja mal amada receber uma carta de amor escrita por um homem de verdade.
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