1o Simpósio Brasileiro Sobre Bullying reforça como o ambiente escolar é onde o problema se manifesta com mais clareza, a importância de medidas de prevenção nas instituições e o papel dos pais. Saiba também o que fazer se o seu filho é o agressor ou o espectador
A psicanalista Sônia Makaron, uma das palestrantes, frisou sobre o papel fundamental dos pais no comportamento da criança, apontando caminhos certos e errados (afinal, ter um filho do tipo valentão não é uma vantagem, como se pode pensar), mas como a partir dos 7 anos o olhar da escola para o convívio entre os alunos deve ser prioritário. Segundo os especialistas que participaram do Simpósio, apesar de, aos poucos, as escolas brasileiras se conscientizarem de que o problema também é delas e pararem de achar que bullying é “coisa de criança e passa com o tempo”, muito ainda precisa ser feito. E não há uma receita: cada espaço precisa encontrar a sua maneira de lidar com a situação.
Abaixo, confira a entrevista da CRESCER com a psicanalista Sonia Makaron
CRESCER: O bullying tem idade para começar?
Sônia Makaron: O bullying tem vários graus, e o mais incipientes podem aparecer já na primeira infância. Porém, é importante os adultos não confundirem uma ação que pode ser feita por curiosidade (a menina de 4 anos que levanta a saia da coleguinha da mesma idade talvez só queira verificar o sexo alheio), com pequenas crueldades repetitivas, que geram sofrimento no outro, característica do bullying. Nessa fase, os pais têm que explicar, dizer que está errado, mas sem punir. Se o fenômeno persistir, indico castigos leves, como ficar sem algo de que gosta. Esse é o momento do problema em que os pais mais têm que agir, pois as crianças ainda estão muito ligadas a eles. A partir dos 7 anos, a idade da razão, o bullying toma a forma mais característica e discutida hoje, com apelidos maldosos e agressões, por exemplo. A partir desse momento, o papel da escola passa a ser prioritário.
C.: Então é na escola que o bullying tem de ser combatido?
S.: Mais do que isso, é no espaço escolar que o bullying precisa ser prevenido. Afinal, é lá que as coisas acontecem. É obrigação da escola adotar políticas antibullying, conscientizar professores e alertar pais e alunos. Se a escola não contar, os pais, muitas vezes, ficam sem saber, principalmente no caso de crianças que são agressoras e espectadoras.
C.: O que os pais devem fazer quando o seu filho é o agressor?
S.: Primeiro, eles precisam controlar o sentimento de autoproteção que leva a pensamentos do tipo “o meu filho não tem problemas”. Ser o valentão não é uma qualidade nesse caso. Tampouco orgulhar-se da suposta liderança do filho, que não se sustenta em coisas realmente importantes, como maior conhecimento, ajuda a resolver a questão. Então, é essencial ouvir o que a escola tem a dizer, pois agressores normalmente não contam aos pais o que fazem, e conversar muito com a criança. Outro ponto fundamental é que muitas crianças tornam-se agressivas porque vêm de um ambiente familiar desarmônico. É importante cuidar das relações caseiras também, mostrar que uma forma de socialização pacífica, solidária, que respeite o outro, é possível. Há, ainda, a possibilidade de procurar ajuda de especialistas quando ou o caso é mais grave ou os pais não sabem direito como lidar com a situação.
C.: E se a criança for espectadora?
S.: Esse, talvez, seja o mais difícil de os pais perceberem. Afinal, a escola dificilmente vai procurar os adultos responsáveis pelas crianças que não estão envolvidas diretamente no conflito, apesar de ser o indicado. Acho importante os pais, sempre que possível, levantarem questões, perguntar o que os filhos acham das situações de bullying, e, a partir daí, propor reflexões. Perguntas como “o que você faria se um colega estivesse sendo humilhando?” já indicam o posicionamento da criança. E ressaltar, sempre, que o correto, caso ele presencie cenas de constrangimento, é procurar a direção da escola. Ele não será um dedo duro, mas sim alguém que agiu com solidariedade.
C.: Depois da tragédia de Realengo, o que muda em relação ao bullying?
S.: O massacre serviu para assustar, mas não necessariamente gerar uma reflexão, pois cada pessoa lida de uma maneira diferente com o sofrimento. Além do que, já é sabido, o atirador tinha problemas psiquícos, e o bullying foi apenas um ingrediente, e não toda a motivação do crime.
Além das respostas jurídicas dadas ao Colégio Nossa Senhora da Piedade por conta do processo que movemos contra ele a respeito do #bullying sofrido pela minha filha, na época com 7 anos, nas suas dependências, este artigo contesta bem a visão da escola com relação ao Bullying, a alegação deles que o problema existia pq EU era a única mãe que reclamava por ser super protetora e mãe de filha única e, ainda, a maneira como o problema era tratado por eles =((((( Muito esclarecedora a entrevista!!!
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